Um conto de Guimarães Rosa que nunca entendi muito bem é A terceira margem do rio: sobre um homem que sobe numa canoa e nela se isola de todos. Mas o que intuo sobre ele é — talvez seja uma ideia fixa minha — que este homem na canoa está trabalhando por algo, em outras palavras, está construindo sua obra. É uma obra espiritual, mas ao mesmo tempo artística e política. Ninguém vê que ela está sendo construída, mas, lentamente, ela está. Assim como a minha. Por isso o que mais me irrita é que digam que não estou fazendo nada e ainda comparem com outros que estão (do alto de sua mediocridade, sempre trabalhando
à vista de todos).
Eu grito
Me indigno publicamente
Não suporto gente levando vantagem às custas dos outros
Vou à câmara municipal
Mas o homem da canoa continua lá, em seu egoísmo misantrópico. Pleno vagabundo. Alienado. Feio.
Ele está trabalhando, como todos.
Por isso não me digam que outros estão fazendo e que eu não estou.
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