sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

SHAKESPEARE: SONETO 129

Sonnet 129

The expense of spirit in a waste of shame
Is lust in action: and till action, lust
Is perjur'd, murderous, bloody, full of blame,
Savage, extreme, rude, cruel, not to trust;
Enjoy'd no sooner but despised straight;
Past reason hunted; and no sooner had,
Past reason hated, as a swallow'd bait,
On purpose laid to make the taker mad:
Mad in pursuit and in possession so;
Had, having, and in quest to have, extreme;
A bliss in proof,— and prov'd, a very woe;
Before, a joy propos'd; behind a dream.
     All this the world well knows; yet none knows well
     To shun the heaven that leads men to this hell.

Soneto 129 (Trad.: Péricles Eugênio da Silva Ramos)

Gasto de espírito é a luxúria consumada,
E gasto vergonhoso; até passar à ação
Ela perjura e mata; é bárbara e culpada
Rude, extrema, sangrenta e cheia de traição;
Relegada ao desprezo logo que fruída;
Buscada além do juízo, e, assim que desfrutada,
Acima da razão odiada; isca engolida,
Só para enlouquecer o engolidor armada;
Insana ao perseguir, e assim na possessão,
Extrema ao ter, depois de ter, e quando à espera,
Bênção na prova, mas provada, uma aflição,
Antes uma alegria, após, uma quimera:
      Tudo isso o mundo sabe, embora saiba mal
      Como evitar o céu que leva a inferno tal.


Tendo como inspiração mais ou menos o mesmo tema, escrevi o seguinte poema (quanta pretensão, colocar um poema meu logo depois de um de Shakespeare! mas é só por que eu sei que não tem nem comparação):

Fósforos

Um breve instante de delírio e ópio;
Só um minuto efêmero de gozo,
O segundo de uma bagana em brasa —
Ou de um golpe em plena boca do estômago.

Em deliciosas catarses e êxtases,
No espasmo feliz do músculo tátil,
Um momento apenas de eternidade
— Que termina, volátil como o éter.

Termina, num átimo como um fósforo,
Como o silêncio do fogo de um fósforo;
As cinzas dos cigarros e dos fósforos.

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