domingo, 8 de agosto de 2010

Poemeto despretensioso escrito num domingo

Embora as cores e as formas ainda sejam nítidas
Embora os sons tenham ainda os timbres que tiveram outrora
Embora o cheiro de urina ainda seja diferente do cheiro de cigarro
Embora
meus pés ainda toquem o chão
Embora
minhas mãos ainda sejam magras e habilidosas
Embora
as palavras no papel tenham o mesmo hermetismo
                                                                            a mesma clareza o mesmo
sentido de sempre
Embora eu ainda tenha a consciência de que sou eu e que o que não sou eu não é eu
Embora eu ainda saiba de cor os velhos autores
                                                                         as velhas
canções 
             Embora minha voz ainda fale e cante
Embora eu ainda tenha o pasmo essencial
                                                               de viver
e os carros passem velozes
e a noite passe veloz
e velozes as gotas de chuva caiam
Embora o fluxo do meu sangue não cesse
Embora o poema ainda seja desnecessário como antes
Embora eu ainda passe indiferente pelos mendigos


Embora tudo seja o que era
                                          eu tenho que te dizer:
que domingo estranho!

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