Abû Muhammad 'Abd al-Majîd ibn 'Abd Allâh ibn 'Abdûn al-Yâburî nasceu em Évora, em meados do século Xi, tendo cedo iniciado os seus estudos em Badajoz sob a orientação de ilustres mestres, estudos esses que veio a completar em Córdova.
Para além de esmerada formação clássica, ficou proverbial a extraordinária memória do nosso poeta, contando-se a esse propósito várias anedotas.
Depois de uma vida algo atribulada, Ibn 'Abdûn viria a morrer cerca de 1135, deixando um lugar aureolado no <<corpus>> da poesia árabe.
Tal deve-se sobretudo à sua celebérrima Qasîda 'Abdûnîa que relata, de forma elegíaca, a morte do seu patrono, al-Mutawakkil, senhor de Badajoz. Este poema tem colhido o entusiasmo de sucessivas gerações árabes e aborrecido outras tantas de arabistas. Atrás abordámos as causas de tal disparidade. Ibn 'Abdûn é efetivamente um bom poeta e, na referida qasîda, apesar do adorno da erudição, restam belíssimos momentos de uma empenhada meditação sobre o devir histórico e a condição humana.
bem cedo o Destino nos fustiga...Para além de esmerada formação clássica, ficou proverbial a extraordinária memória do nosso poeta, contando-se a esse propósito várias anedotas.
Depois de uma vida algo atribulada, Ibn 'Abdûn viria a morrer cerca de 1135, deixando um lugar aureolado no <<corpus>> da poesia árabe.
Tal deve-se sobretudo à sua celebérrima Qasîda 'Abdûnîa que relata, de forma elegíaca, a morte do seu patrono, al-Mutawakkil, senhor de Badajoz. Este poema tem colhido o entusiasmo de sucessivas gerações árabes e aborrecido outras tantas de arabistas. Atrás abordámos as causas de tal disparidade. Ibn 'Abdûn é efetivamente um bom poeta e, na referida qasîda, apesar do adorno da erudição, restam belíssimos momentos de uma empenhada meditação sobre o devir histórico e a condição humana.
e para trás rastos vão ficando.
esconjuro-te! deixa que te diga:
não chores por sombras, tudo é ilusão.
ai de quem com quimeras vai sonhando
entre as garras e os dentes do leão!
que a vida não te iluda e entorpeça já,
para a vigília são teus olhos feitos.
ó noite, que do teu ócio nos afaste Alá,
e dos que ao teu feitiço estão sujeitos!
teu prazer engana, víbora escondida
detrás da flor: morde quem a quer colher.
quanta geração foi de Alá querida!
o que ficou? poderá a memória responder?
quem pode a menor coisa pretender,
e talentoso ou bom, deveras, ser?
quem pode dar recompensa ou castigar?
quem põe fim ao sopro da desgraça?
quem é que a Danação pode afastar
ou a tragédia que o Destino traça?
ó vã generosidade, ó vão valor!
quem me defenderá do opressor
– calamidade em noite sem aurora –
quem? se já não há regra a respeitar
e o que resta é um silêncio imposto?
quem é que apagará o amargo gosto
que nunca ninguém pode apagar?
***
meu irmão, a aurora vem
feita de luz e esplendor
ofertar à noite o véu.
sorve já a matutina
bebida que a alva traz
e, como se presa fosse,
toma a alegria do dia
pois da tarde nada sabes...
meu irmão, toca a erguer!
olha a festa da manhã
no jardim gelando o vinho.
não durmas, é hora de levantar.
e, como se presa fosse,
toma a alegria do dia
já que sob o pó da terra
longo será o teu sono.
(em: ALVES, Adalberto. Meu coração é árabe.Assírio e Alvim, Lisboa, 1998)
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