A inutilidade do argumento
A obsolescência do verso
O tamanho do universo
A ausência de qualquer intento
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
domingo, 24 de fevereiro de 2013
Na teoria psicanalítica, o conceito de sublimação está relacionado à ideia de um instinto profundo da alma humana que é reprimido e é canalizado numa outra força psíquica para que possa ser liberado: por exemplo, uma pessoa que, sentindo ódio e vontade de matar outrem, ao invés de fazê-lo apenas xinga e grita palavrões, sublimando assim o instinto de assassínio em palavras. De onde vem a anedota de que o primeiro homem a xingar o outro ao invés de partir sua cabeça foi o fundador da civilização — pois a civilização não passa de uma sublimação de nosso instinto de sobrevivência canalizado em nossos atos sociais e civilizatórios.
A arte também não passa de sublimação. Toda arte nasce do ódio, da violência, do pecado, de qualquer coisa essencial e profunda que precisamos reprimir para viver em sociedade. Tanto maior é a arte quanto maior o grau de sublimação que ela representa: será então maior a arte que, vindo do mais profundo da alma, do mais reprimido e violento, menos o aparente por estar isso sublimado noutra coisa. Daí concluo que quanto menos a arte falar aos sentidos e aos instintos, maior ela será, por estar melhor sublimada. Quanto mais se aproximar da abstração, com quanto mais distanciamento ela conseguir comunicar nossos instintos profundos, maior ela será.
A arte também não passa de sublimação. Toda arte nasce do ódio, da violência, do pecado, de qualquer coisa essencial e profunda que precisamos reprimir para viver em sociedade. Tanto maior é a arte quanto maior o grau de sublimação que ela representa: será então maior a arte que, vindo do mais profundo da alma, do mais reprimido e violento, menos o aparente por estar isso sublimado noutra coisa. Daí concluo que quanto menos a arte falar aos sentidos e aos instintos, maior ela será, por estar melhor sublimada. Quanto mais se aproximar da abstração, com quanto mais distanciamento ela conseguir comunicar nossos instintos profundos, maior ela será.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Se se deparar com o absurdo da vida
Durma
Coberto até a cabeça
(repita o gesto infantil, pois nada mais se é diante desta máquina do que criança medrosa)
Por que a vida não faz sentido algum.
É um monstro absurdo escondido debaixo da cama.
É o absurdo.
A vida fede.
Só a morte é limpa.
O que fede num corpo morto? — não é a morte
é a vida que passa a pulsar.
Milhões de bactérias, fungos, vermes
se multiplicando, vivendo, pulsando, fermentando
vivendo — a vida fede — no corpo morto.
Você come, excreta, secreta, sangra, baba, lacrimeja.
Você gesticula, geme, corre, se agacha com medo.
Eu não quero nada.
Não quero ser nada, não posso ser nada, não posso querer ser nada
Sequer a ação me é concedida.
É agir repetir maquinalmente os mesmos atos dia após dia
ou atos diferentes, que seja, como se fossem novos
e disso extrair apenas um vazio, um peso
uma enorme pedra despencando do desfiladeiro
a pedra que suporta em suas costas.
Sísifo e Atlas ao mesmo tempo
com um ombro quer suportar o mundo
— as guerras dos homens, a ignorância dos homens, o poder dos homens, o saber que é também um homem —
e com o outro quer suportar a vida
e sua face desfigurada.
As televisões zunem diante da multidão nua
garrafa creme dental violão luz carro máquina ávida casa lata arte kitsch em cima erudito lápis mictórios out-door tela cor favela escritório informática assim tinta zoom zzzum zás rrrrrrrrrrrrrrrrr eterno!
massacrando olhos cabeças imagens intermináveis
Um homem atravessa a rua sozinho na noite de Belo Horizonte
Sente os odores das fezes dos mendigos da gente toda da urina dos mictórios
Os carros passam e ele busca ali qualquer coisa que justifique a vida
Sem encontrar
E no entanto ele vive.
O catolicismo é a religião da morte - ele pensa.
Ela que não aceita a vida nem aceita o suicídio.
O que impede que a vida faça sentido mas impede que a morte seja apressada?
Nesse momento ele se sente profundamente católico.
Farto de toda metafísica
Ele se senta na porta do bar e fuma.
Durma
Coberto até a cabeça
(repita o gesto infantil, pois nada mais se é diante desta máquina do que criança medrosa)
Por que a vida não faz sentido algum.
É um monstro absurdo escondido debaixo da cama.
É o absurdo.
A vida fede.
Só a morte é limpa.
O que fede num corpo morto? — não é a morte
é a vida que passa a pulsar.
Milhões de bactérias, fungos, vermes
se multiplicando, vivendo, pulsando, fermentando
vivendo — a vida fede — no corpo morto.
Você come, excreta, secreta, sangra, baba, lacrimeja.
Você gesticula, geme, corre, se agacha com medo.
Eu não quero nada.
Não quero ser nada, não posso ser nada, não posso querer ser nada
Sequer a ação me é concedida.
É agir repetir maquinalmente os mesmos atos dia após dia
ou atos diferentes, que seja, como se fossem novos
e disso extrair apenas um vazio, um peso
uma enorme pedra despencando do desfiladeiro
a pedra que suporta em suas costas.
Sísifo e Atlas ao mesmo tempo
com um ombro quer suportar o mundo
— as guerras dos homens, a ignorância dos homens, o poder dos homens, o saber que é também um homem —
e com o outro quer suportar a vida
e sua face desfigurada.
As televisões zunem diante da multidão nua
garrafa creme dental violão luz carro máquina ávida casa lata arte kitsch em cima erudito lápis mictórios out-door tela cor favela escritório informática assim tinta zoom zzzum zás rrrrrrrrrrrrrrrrr eterno!
massacrando olhos cabeças imagens intermináveis
Um homem atravessa a rua sozinho na noite de Belo Horizonte
Sente os odores das fezes dos mendigos da gente toda da urina dos mictórios
Os carros passam e ele busca ali qualquer coisa que justifique a vida
Sem encontrar
E no entanto ele vive.
O catolicismo é a religião da morte - ele pensa.
Ela que não aceita a vida nem aceita o suicídio.
O que impede que a vida faça sentido mas impede que a morte seja apressada?
Nesse momento ele se sente profundamente católico.
Farto de toda metafísica
Ele se senta na porta do bar e fuma.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Panorama da arte contemporânea pelo buraco da fechadura
arte de galeria:
- distanciamento do público.
- ausência de retórica.
- hermetismo - trabalho voltado para o conceito mas com a ausência de conceito.
ilustração/design gráfico:
- proximidade do público.
- retórica. busca envolvimento seja pelo interesse cognitivo (como ilusões de ótica) ou sentimental .
- grande diversidade de estilos e objetivos.
- virtuosismo/simplicidade. humor/envolvimento dramático. busca por qualquer coisa que chame a atenção.
música erudita:
- distanciamento do público.
- técnicas complexas. virtuosismo.
- predominância da forma sobre o significado.
- linguagem inacessível a leigos.
- diversidade de estéticas.
música popular:
- aproximação do público.
- virtuosismo.
- predominância da forma sobre o conteúdo, porém envolvendo o público.
- predomínio de poucos estilos.
teatro:
- duas correntes. a primeira:
- distanciamento do público.
- hermetismo. excesso de informação. subjetividade.
- uso expandido do ambiente como recurso dramático.
- a segunda:
- aproximação do público.
- envolvimento físico.
- retrato da juventude específica dos mesmos meios que produzem o teatro.
- predomínio de recursos capazes de envolver o público em detrimento da narrativa.
- misturas das duas correntes.
- distanciamento do público.
- ausência de retórica.
- hermetismo - trabalho voltado para o conceito mas com a ausência de conceito.
ilustração/design gráfico:
- proximidade do público.
- retórica. busca envolvimento seja pelo interesse cognitivo (como ilusões de ótica) ou sentimental .
- grande diversidade de estilos e objetivos.
- virtuosismo/simplicidade. humor/envolvimento dramático. busca por qualquer coisa que chame a atenção.
música erudita:
- distanciamento do público.
- técnicas complexas. virtuosismo.
- predominância da forma sobre o significado.
- linguagem inacessível a leigos.
- diversidade de estéticas.
música popular:
- aproximação do público.
- virtuosismo.
- predominância da forma sobre o conteúdo, porém envolvendo o público.
- predomínio de poucos estilos.
teatro:
- duas correntes. a primeira:
- distanciamento do público.
- hermetismo. excesso de informação. subjetividade.
- uso expandido do ambiente como recurso dramático.
- a segunda:
- aproximação do público.
- envolvimento físico.
- retrato da juventude específica dos mesmos meios que produzem o teatro.
- predomínio de recursos capazes de envolver o público em detrimento da narrativa.
- misturas das duas correntes.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Todo o conhecimento humano é exclusivamente humano, isto é, não significaria nada sem a existência do homem. Essa afirmação é óbvia, mas nos mostra como a nossa posição geralmente é universalista, quando na verdade o que sabemos sobre o mundo é apenas algo filtrado pela lente de nossa própria experiência. Nietzsche reconhece isso, mas aceita que não é possível ao ser humano outro tipo de conhecimento. Dessa forma, nossos conhecimentos são símbolos, metáforas, mentiras para designar algo que existe no mundo. Então surge a questão: por que o ser humano, cuja natureza se funda na mentira, tem um desejo tão profundo de encontrar a verdade?
É no reconhecimento dessas mentiras ou símbolos, que Nietzsche elabora um conceito de Verdade. Não uma verdade absoluta, mas uma verdade provinda do contrato social, uma vez que ele também é símbolo, representação, teatro. É na necessidade de se integrar à coletividade que nasce a necessidade de encontrar a verdade. Essa verdade relativa é dependente da comunicação, da linguagem.
Na linguagem, a limitação dos nossos conceitos fica clara: uma palavra é incapaz de expressar integralmente algo que existe, servindo apenas como um símbolo convencionado socialmente. Cada sociedade tem suas convenções, como fica evidente quando se observa os diversos idiomas, portanto a verdade é duas vezes relativa: primeiro ao passar pelo filtro da experiência humana, segundo ao passar pelas diferenças culturais.
É no reconhecimento dessas mentiras ou símbolos, que Nietzsche elabora um conceito de Verdade. Não uma verdade absoluta, mas uma verdade provinda do contrato social, uma vez que ele também é símbolo, representação, teatro. É na necessidade de se integrar à coletividade que nasce a necessidade de encontrar a verdade. Essa verdade relativa é dependente da comunicação, da linguagem.
Na linguagem, a limitação dos nossos conceitos fica clara: uma palavra é incapaz de expressar integralmente algo que existe, servindo apenas como um símbolo convencionado socialmente. Cada sociedade tem suas convenções, como fica evidente quando se observa os diversos idiomas, portanto a verdade é duas vezes relativa: primeiro ao passar pelo filtro da experiência humana, segundo ao passar pelas diferenças culturais.
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