sábado, 12 de janeiro de 2013

A mesa


A cena se inicia com a mãe e seus filhos na sala, sentados num largo círculo sem nada no meio. Eles se movimentam em silêncio como se estivessem comendo em volta de uma mesa, mas não há nada. 

FILHA: Sabia mãe, que seu filho andou roubando de novo?

A mãe fica calada.

FILHO 2 com ironia: Normal.

O filho 1 que roubou se levanta.

FILHO 2: Onde é que você vai?!

FILHO 1: Vou roubar. Tô precisando de dinheiro pra fumar.

Ele sai. Os outros continuam a comer em silêncio.

FILHO 2: Eu tô desempregado, mãe.

FILHA: Normal...

FILHO 2: Eu tô falando é com a mãe, sua... garota de programa!

FILHA: Do que você me chamou?!

FILHO 2: Exatamente o que você ouviu! Você pensa que a gente não sabe, é?

FILHA: Quer saber?! Eu sou mesmo! Sou mesmo! Sou uma puta! E você não tem nada com isso! Muito melhor do que viver às custas da mãe.

Ele dá um tapa na cara dela. A mãe observa, indiferente.

FILHA: Cê me paga!

Sai, nervosa.

Entra o filho 1, completamente perturbado.

FILHO 1: Mãe, eu juro que não queria! Foi um acidente... um acidente!

FILHO 2: Mas do que é que você está falando?!

FILHO 1: Foi sem querer, mãe. Eu, eu matei uma pessoa. Mas eu juro que não queria! Juro! Quando vi já tinha acontecido.

Ele se senta, calado.

FILHO 2: Só faltava essa... uma mulher da vida e agora um drogado assassino.

Todos se calam novamente, ainda comendo.

Chega a filha, com as roupas rasgadas e e machucada.

FILHO 2: Hah!

FILHA: Mãe, eu juro que não volto mais pra lá!

FILHO 2: Levou mais tapa na cara!

FILHA: Cala a boca!

FILHO 2: Aposto que estava escondendo dinheiro do cafetão.

FILHA: Cala a boca! Eu não quero ver aquele cara nunca mais.

Ela se deixa sentar numa cadeira, chorando.

Todos comem em silêncio como no início.

MÃE: Será que comeremos pra sempre numa mesa invisível?

***

Escrevi essa peça pra apresentar na aula de geografia.

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