Rubem Braga foi, talvez, o primeiro grande escritor que li e que me causou uma profunda impressão. Obviamente houveram outros antes, Monteiro Lobato, Moacyr Scliar, João Carlos Marinho. Lembro até de ter lido um livro de Lima Barreto aos onze, doze anos — Os Bruzundangas. Mas a primeira vez que li Rubem Braga foi diferente. Ninguém falava de passarinho como ele, ninguém tinha aquela alegria simples que por vezes era quase melancólica. Se não fosse por Rubem Braga eu nunca teria me interessado por literatura. O engraçado é que, sendo Rubem Braga um cronista e tendo eu lido durante muito tempo seus textos, eu deveria levar mais jeito para crônicas. Mas acontece o contrário: se já não sou bom poeta nem bom romancista, sou muito pior como cronista. Minhas tentativas são sempre frustradas.
Desconfio que seja pela dificuldade em escrever na primeira pessoa. Na verdade, tenho dificuldade até mesmo em falar na primeira pessoa. Mas não posso colocar a culpa na timidez. Rubem Braga era um tímido.
Geralmente minhas tentativas de crônica terminam aqui. Pronto, o assunto acabou. É esse o meu problema. O que posso dizer daqui pra frente? Posso levantar mais hipóteses sobre minha falta de talento. Posso falar um pouco mais do velho Braga. Posso dar um exemplo cotidiano. Desse jeito, nunca vou publicar em jornal.
O bom cronista precisa ter opinião, precisa estar atento aos detalhes. O cronista não fala da essência da vida, fala da cor das unhas da mulher da padaria, fala do que fez no dia, fala de passarinhos. Todos esses anos lendo crônicas e ainda não aprendi isso, quero sempre o que é épico, extraordinário, surpreendente. Minha timidez é megalomania. Li uma vez o Caetano Veloso citando Miles Davis, algo assim: "A América é o único lugar do mundo onde se contratam quarenta músicos para fazer um uníssono". Agora imagine quarenta músicos para dar uma única nota em pianíssimo. Isso é o significado de timidez megalomaníaca. A crônica tem que ser o contrário disso: tem que ser como um violão ritmado e descontraído tocando um monte de minúcias, mas que sejam minúcias expressadas com clareza.
Mas minha maior dificuldade é na conclusão da crônica. Como vou concluir um texto em que estive falando sobre diversos assuntos ou sobre assunto algum? Quer dizer, essa dificuldade com o fim é apenas uma consequência do início e do meio. Melhor terminar mal do que não terminar. Sem mais delongas. E se você chegou até aqui, saiba de uma coisa: poderia ter sido pior.
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