sexta-feira, 23 de agosto de 2019

LOBEIRA


O mênstruo da lua cheia
Tingia o branco dos lençóis no varal
E o manto da madrugada

O nada varava o espelho
Seios pendiam verdes sóis argentos entre os ramos da lobeira

O vento assobiava anunciando a voz do encoberto
Cantou a alma-de-gato, a cerração cegava mas eu vi

O mênstruo da lua cheia...

O ar prenhe de açúcar nauseava quem sentisse o cheiro
Da pétala de vulva, e feito uma saúva um vulto eu vi

Eu vi o matuto
Provar um fruto
Adrede virar
Lobisomem-guará

Ouvi no escuro
Um latido ou uivo
Um grito
E o bicho me olhou
O bicho...

O monstro, a lua cheia
No canavial, na capoeira
Sem rastro

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