Aos deuses doce ambrosia
Aos heróis glória imortal
A nós trabalhos e dias
Servindo ao capital:
Quem come e paga internet
Precisa do vil metal.
Pois o bom senso adverte:
Arte não enche barriga
Embora a alma liberte.
E é sapiência antiga:
Quando não tem pão na mesa
A liberdade não vinga.
Se a inteligência presa
Agoniza na gaiola
Até morrer de fraqueza
E a cabeça estiola
Definhando desnutrida
Dentro dos muros da escola.
Se o pobre tem nessa vida
Fome de arte e cultura
Precisa suar na lida
Precisa ter vida dura
Antes de filosofia
Ciência ou literatura.
Quando chega o fim do dia,
Cansado de trabalhar,
Se ainda lhe resta energia
O pobre pode sonhar.
Pode fazer alquimia
Refletir ou estudar.
Mas isso é só utopia,
Não passa de ilusão:
Quem liga pra poesia
Quando tem televisão?
Que alivia o cansaço
Com a fácil informação.
Ninguém tem nervos de aço
Ninguém só vive de pão
O mundo é muito mais vasto
Cultura arte diversão
Por isso não culpo o pobre
Por assistir o Faustão.
Seria coisa mais nobre
Seria coisa mais justa
Se quando ganha o seu cobre
Não ganhasse à sua custa
O rico que só explora
O seu trabalho e labuta.
Ninguém no mundo ignora
Que quanto mais poderoso
Menos com o outro se importa
Mais egoísta e maldoso
Mas vai chegar uma hora
Que o rico vai ter seu troco.
Quando no pobre aflora
Desejo por igualdade
Uma barragem estoura
Submergindo a cidade
Rompendo as estruturas
Que enjaulam a sociedade.
Talvez não exista cura
Pro vírus da humanidade
Mas enquanto a história dura
Eu creio na liberdade
Muito acima do dinheiro
Que não traz felicidade.
E alterando o roteiro
Desdigo o que disse acima:
O que pra mim vem primeiro
É melodia e rima
E só depois o salário
Por que também tenho sina.
Me esmero no meu trabalho
Burilo com paciência
Sou artesão e operário
Do amor e da consciência.
Eu pago meu aluguel
Mas busco é transcendência.
A um pedaço de papel
Eu não presto reverência.
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