sábado, 19 de setembro de 2015

ROBERT JOURDAIN: "MÚSICA, CÉREBRO E ÊXTASE"

"Quando as promessas (previsões) da música são cumpridas, experimentamos prazer; quando são traídas, sentimos ansiedade, ou coisa ainda pior. Quando uma composição hábil desperta previsões fortes, de longo alcance, intenso prazer acompanha sua realização; em comparação, as fracas antecipações geradas por uma composição pobre dificilmente chegam a nos comover. 
Mas o prazer mais profundo da música vem com os desvios do esperado: dissonâncias, sincopações, torceduras no contorno melódico, repentinos estrondos e silêncios. Não é contraditório? Não , se os desvios servem para estabelecer uma resolução ainda mais forte. A música banal faz surgirem previsões banais e, então, imediatamente as satisfaz, com resoluções óbvias. Há prazer a ser obtido, mas é o prazer do pãozinho, não do caviar. Música bem escrita não se apressa nem um pouco em satisfazer previsões. Ela arrelia, instigando, repetidamente, uma previsão e sugerindo sua satisfação, algumas vezes precipitando-se em direção a uma resolução, mas recuando, depois, com uma falsa cadência. Quando afinal, ela se entrega, são postos em ação, ao mesmo tempo, todos os recursos da harmonia e do ritmo, do timbre e da dinâmica. A arte de escrever esse tipo de música não consiste tanto em elaborar resoluções, mas sim em incrementar as previsões até níveis extraordinários. Se o processo nos soa tão parecido com o de uma receita para fazer bem o amor, mas se trata de fazer boa música, é porque o sistema nervoso funciona da mesma maneira em todas as suas esferas. O mesmo mecanismo básico se aplica a todos os prazeres, artísticos ou não, pelo simples motivo de que esse mecanismo é prazer."

Por que não me explicaram isso nesses termos antes?

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