E, quando essas características mudam de súbito, tem início um novo momento. Se mudam muito devagar, o novo momento entra em existência enquanto o momento presente ainda está continuando. Este encontro desta noite é um momento determinado pelas medidas da sala, pelo número de participantes e até certo ponto pela quantidade de pessoas presentes. Se vocês deixassem a sala, um a um, começando agora, de modo que a última pessoa deixasse depois de cerca de duas horas, aproximadamente quando devo ir embora, então a mudança deste momento da palestra para o próximo momento de ir para casa ou ir para algum outro lugar será um processo muito lento. Por outro lado, se o chão de repente desabasse, ou se houvesse um explosão, a mudança deste momento para o próximo seria muito abrupta.
O grau de mudança é uma qualidade que pode ser composta tanto quanto a característica da música que está de fato mudando. Posso compor com uma série de graus de mudança, ou podemos chamar esses graus de renovação. Então, posso começar com qualquer material musical e acompanhar o padrão de mudança, e ver onde leva, de mudança zero a um máximo definido. É isso que entendo por forma-momento. Formo algo na música que é tão único, tão forte, tão imediato e presente quanto possível. Ou tenho alguma experiência. E então posso decidir, como um compositor ou como a pessoa que tem essa experiência, com qual velocidade e com qual grau de mudança o próximo momento ocorrerá.
MOMENTE [Momentos] é uma composição que comecei em janeiro de 1961; durante a primeira semana, projetei e escrevi todos os esboços do plano geral do processo formal. Para os que conhecem minhas obras precedentes, será óbvio que todas as determinações formais não caíram simplesmente do céu, mas podem ser encontradas em forma preparatória aqui e ali em composições anteriores. Por exemplo, a aleatoriedade ou mobilidade controlada da forma comparada a uma que é fixa e imóvel. Explicarei o que isso significa.
Há três grupos principais de "momentos" que caracterizam a obra. O primeiro é o grupo dos momentos-M, no qual predominam características melódicas; eles são definidos na partitura por um M maiúsculo. O momento-M central é puro M, flanqueado em ambos os lados por momentos-M(d) e M(k), e cada um deles por sua vez dá origem a combinações subsequentes. eles são os momentos-M, os momentos melódicos, e enfatizam a horizontalidade, a heterofonia. Heterofonia é um modo de articular eventos sonoros ao redor de uma linha, que pode ser uma melodia ou apenas um glissando. Isso significa que mais de uma fonte, digamos vozes e instrumentos, estão seguindo a mesma linha, mas nem todas ao mesmo tempo: não sincronizadas à mesma batida, ou relógio, ou outro dispositivo de medir o tempo. Assim, o que se ouve é o resultado de diversas linhas tentando ir em paralelo, mas interferindo umas com as outras de modo a produzir algo que não é mais uma linha clara, e sim um evento heterofônico.
Agora, suponha que isto não esteja acontecendo apenas por acaso, mas de uma maneira muito controlada, como em grande parte da música popular. Então, poderia definir a espessura da linha, da melodia, em qualquer lugar determinado; ou poderia ir além e definir um limite superior e inferior dentro do qual os instrumentistas se movem, de modo que esse espaço melódico será mais ou menos preenchido. Ainda é uma melodia, mas também heterofonia: "hetero" significa muitos, "fonia" significa soar junto. Encontra-se muito disso na música balinesa, por exemplo, ou na música popular vietnamita.
Depois, há um segundo grupo, chamado de momentos-K, a partir da palavra alemã Klang, que significa qualidade sonora. Eles são caracterizados por tudo que funciona como componente de um som complexo com relações verticais: timbres, espectros sonoros, controle de acordes, homofonia. Música homofônica.
Um terceiro grupo é baseado em D: duração, Dauer, em alemão. Momentos baseados primariamente em princípios de durações medidas, de diferentes extensões, dão origem a duas características importantes de qualquer construção musical. Uma é silêncio; a outra é polifonia, a sobreposição de camadas mais ou menos independentes que estão soando ao mesmo tempo. Deixe-me explicar. Quando estou trabalhando com uma linha melódica contínua de uma formação específica, então a questão da duração não é levantada. Contudo, assim que começo a cortar a linha em seções menores, então tenho de lidar com durações diferentes, e com a inevitável possibilidade de que os fragmentos de melodia possam ficar separados, produzindo silêncio. Silêncio é o resultado do conceito de duração: lidar com durações significa quebrar o fluxo de tempo, e isso produz silêncio.
Em segundo lugar, quando algo é cortado, as peças não podem ser apenas separadas, mas também sobrepostas, uma vez que se tornam independentes umas das outras. E essa sobreposição produz polifonia. Assim, tanto o princípio da polifonia como o princípio do silêncio são baseadas no conceito de duração e na diferenciação das durações; é por isso que digo que a polifonia é a forma mais característica de articulação de momentos baseados em diferenças de duração.
Tendo distinguido as características M, K e D tanto quanto possível, ao compor um momento puramente melódico, um Klangmomente puramente verticalizado, e um momento puramente duracional, polifônico, sou capaz de derivar outros momentos a partir desses centros que têm elementos mais ou menos em comum com os outros. Assim há um momento-M(k), que é um momento-M com um componente de K: para ser preciso, cerca de 30 por cento. O momento-M(d) tem um componente de características D. Posso agora construir toda uma árvore de diferentes gerações de momentos inter-relacionados, e posso controlar muito cuidadosamente o quanto eles têm em comum. Isso é bastante oposto ao conceito tradicional de construir um continuum musical no qual então se tem de inserir quebras, produzindo mudanças súbitas para sustentar o ímpeto. Ao invés de começar com algo muito homogêneo e depois quebrar a homogeneidade, iniciamos com instantes completamente separados: Agora! Agora! Agora! Agora! Agora! — e então começamos a determinar quanta memória ou esperança cada Agora pode ter, quanto ele pode ser relacionado ao que aconteceu antes ou acontecerá em seguida.
A mobilidade de MOMENTE, à qual me referi antes, funciona da maneira seguinte: Os momentos-K sempre permanecem no centro da obra quando é apresentada. Mas o regente pode decidir sobre a ordem dos momentos para uma apresentação em particular; eles estão todos disponíveis como material gráfico, escritos em notação tradicional e gráfica, e quase todos os elementos estão contidos em uma página grande. Os momentos-K estão sempre no centro da obra, mas os momentos-M e D de cada lado são intercambiados, resultando ou nos momentos-D no início, depois nos K e finalmente nos momentos-M, ou momentos-M, depois K, terminando com os momentos-D. Assim como para grupos grandes, isso se aplica também para os momentos dentro de cada grupo. Em cada ramo há um centro com dois subgrupos de cada lado, e cada subgrupo similarmente é um centro com dois subgrupos; onde quer que haja um centro há a possibilidade de trocar as posições dos subgrupos. É como um móbile, e significa que há um grande número de possibilidades de combinar esses momentos musicais em uma versão fixada para uma apresentação específica ou uma série de apresentações.
Finalmente, há quatro momentos-I: um I(m) com características M, um I(d), I(k) e um momento-I puro. O I significa momentos Informais, ou extremamente indeterminados: bastante vagos, estáticos, sem direção; eles são de fato os momentos mais longos de toda a obra e servem para neutralizar as três categorias principais. I(m) e I(k) podem trocar de lugar, mas I(d) está sempre entre eles; o momento-I puro, contudo, sempre vem no fim, e nunca muda de posição.
Agora, ao material. Em todos os momentos-M a soprano solo predomina como elemento sonoro mais linear em toda a composição, seguida pelos metais, quatro trompetes e quatro trombones. Toda vez que a soprano solo é ouvida, a voz que fala e tudo que tem a ver com a fala é especialmente proeminente. A partir do que já disse sobre heterofonia, ficará claro que há também uma ênfase na aleatoriedade dentro de certos limites: de tempo, distribuição de elementos, de alturas, ou timbres, de durações. Aleatoriedade é uma característica particular nos momentos-M; segue-se o momento-M central, puro, será o momento cujos elementos são distribuídos com uma aleatoriedade extrema.
Os momentos-K têm um grande coro de vozes masculinas apresentado de modo proeminente, e no momento-K puro há somente vozes masculinas. Os instrumentos característicos são a percussão: diferentes grupos de metalofones, um grande tam-tam, pratos — também o vibrafone, que é um instrumento de percussão de metal com alturas fixadas. Também instrumentos de pele que vão desde uma altura aproximada até uma definida, os últimos com um tambor especial em forma de rim que descobri, que permite a produção de glissandi e uma escala de alturas precisas. Além disso, uma variedade de instrumentos de percussão que produzem sons como consoantes: shhh, sss, rrr, etc. O som de sussurro e barulhos que se assemelham a consoantes sem voz, tais como o som de chocalhos tubulares, ou os coros arrastando os pés na plataforma, tudo com um caráter barulhento e registro específico, como fsss ou fff, têm proeminência, assim quando tais sons ocorrem, vocês estão cientes de que isso é uma influência dos momentos-K, assim como qualquer coisa, desde os tipos normais até os mais artificiais de fala, pode ser identificada como uma influência de momento-M.
O terceiro grupo, os momentos-D, é caracterizado principalmente por vozes femininas. Elas têm de ser claras assim como altas em registro, de modo que as linhas melódicas da polifonia serão melhores distinguidas no registro mais alto. Também órgãos elétricos, que permitem que as durações sejam medidas com precisão correta até terminarem totalmente, sem qualquer declínio do som, e então serem cortadas exata e claramente. Dentro de limites, este é também o caso dos metais e das vozes. Assim, o canto é a característica que distingue os momentos-D. Vocês podem imaginar como as combinações podem ser compostas a partir dos diferentes ingredientes: um momento-D(m) como, digamos, cantar com um pouco de sussurro, ou risada, ou suspiro, ou outro elemento que vem de M. E essas influências vêm em doses muito precisas.
Com cada momento vem um certo número de partituras menores contendo o mesmo nome da letra e um número de identificação. Essas são chamadas de inserções, e cada uma leva um excerto característico do momento em si. Quando os momentos estão arranjados em uma ordem especial, há instruções e setas no topo de cada momento que indicam onde as inserções devem entrar. Uma seta apontando para o próximo momento em uma sequência escolhida significa pegar uma inserção daquele momento em particular e colocá-la no contexto do próximo. Há aberturas na partitura para receber inserções de momentos prévios ou seguintes, e a música que é inserida assume certas características de duração, velocidade e curvatura dinâmica que pertencem ao momento anfitrião. Em um extremo, há momentos que não dão nem recebem nada: eles são neutros, exemplos de autocontenção extrema. No outro extremo, há momentos que assumem bastante de seu ambiente imediato, e dão bastante. Entre esses extremos há muitos graus de inter-relação, que determinei com precisão.
Os momentos-K são todos ativos. Eles influenciam outros, mas eles próprios não são influenciados. O momento mais forte é o momento que toma menos e dá mais, e o momento mais fraco é o que você mal pode reconhecer por si, porque tem tanto em comum com o que aconteceu antes e com o que vem a seguir. O que digo sobre momentos certamente se aplica a tudo o mais — a pessoas também. Aqueles que são tão cheios de memória e esperança que quase não existem como indivíduos, ou que são influenciados por outro a uma extensão tal que você não mais os conhece, porque não se pode vê-los por suas reflexões. Comparados a eles, o que não toma nada, ou precisa tomar, mas que influencia os outros, é muito forte.
O que eu disse a respeito da estruturação interna de MOMENTE também se aplica à escolha do material. Tinha um certo material em mente enquanto estava planejando. Estava pensando em um mínimo de artistas. Um coro, obviamente, porque queria integrar todos os aspectos de linguagem, uma voz solo e grupos de vozes. Instrumentos, sim, pensei em usar oboés, por exemplo, em combinação com trompetes e outros instrumentos, mas esqueci deles conforte o projeto progredia. De fato, quanto mais fundo ia, na forma-momento, menos material precisava, porque estava achando mais interessante calcular com muito cuidado o quanto (muito ou pouco) os momentos teriam em comum.
A notação também reflete as relações internas. Que notação vocês imaginariam para um momento-D extremamente determinado, no qual se encontra uma ênfase na organização polifônica, sincopações rítmicas, etc.? Naturalmente a notação clássica é o que mais se encontra aqui. E, em momentos que têm um grande componente-M de aleatoriedade estatística, encontramos notação gráfica de campos dentro da qual os elementos podem ser distribuídos mais ou menos livremente, e nos quais a altura é mais indeterminada. Para o coro posso, simplesmente dar linhas indicando os extremos mais altos e mais baixos da amplitude, e indicar inflexões subindo ou caindo entre eles: assim, essa é uma notação relativa de altura. O mesmo se aplica ao tempo: desenho uma caixa de tempo de uma certa extensão, para um tocador de tambor, e o sinal do regente é apenas um número sete, que significa que durante esse intervalo de tempo o intrumentista pode efetuar sete batidas nos tambores — quaisquer tambores. Ou vozes: dou-lhes uma lista de sete sílabas sem sentido, ou sílabas onomatopaicas, escritas foneticamente, como Oh! ou Puh! ou Oi! ou Ah! E todos os cantores masculinos no grupo escolhem um número especificado para usar como comentários durante um dado número de segundos enquanto a soprano solo está cantando, quando eles quiserem. Isso leva a uma controlada aleatoriedade de distribuição dessas sílabas no tempo e, naturalmente, ordem. E eles escutam o que a soprano está cantando, ou a observam, e dizem "Oh-hh", ou "Uau!" ou "U-lá-lá" — todos os quais são dados por mim na partitura.
Um dos inícios possíveis de MOMENTE é o momento-I(m), um momento informal, indeterminado, com características M. Chamo-o de momento de aplauso. Há normalmente o aplauso da audiência antes do começo da apresentação, e se é escolhida uma versão que começa com I(m), então o regente sobe ao palco, curva-se ao público, vira-se rapidamente, dá um sinal e todo o coro começa a aplaudir o público. Então, pouco a pouco, aos sinais do regente, esse aplauso torna-se gradualmente mais estruturado. Por exemplo, de repente torna-se rítmico, então de volta ao aplauso estatístico normal; aqui e ali as primeiras sílabas emergem dos cantores baixos, "Oh, se tu fosses meu irmão" (do Cântico dos Cânticos) — e então novamente, blocos verticais de aplauso. Então, os trombones entram com alturas claras, assim mais e mais esse material ordinário é transformado em material musical, tornando-se organizado musicalmente.
Esse é um aspecto de como o material sonoro da experiência diária é integrado nessa obra; não há uma linha divisória clara entre material musical e sons ambientes nessa peça. De modo semelhante para a escolha do material verbal: nos momentos-K em particular, usei bastantes palavras e sílabas, gritos que ouvi do público durante apresentações de músicas de minha própria autoria. Comentários como "Pare isso!", "Bis!", "Feio!", "Lindo!", "Terrível!" ou "Fique quieto!" — são todos incorporados, e indiquei como essas sílabas deveriam ser pronunciadas, algumas vezes estritamente em ritmo, outras vezes entoadas no estilo da igreja: "Fei-o, lin-do; lin-do, fei-o".
Depois, há material um pouco mais estruturado. No fim desse momento-M, por exemplo, a soprano solo recebe uma série de sílabas, como "Mi-mi-mi-mi" e "Nein-nein-nein" [N.T.: pronuncia-se Náin-náin-náin], e assim por diante, e pede-se que ela as repita em qualquer ordem, junto com um número de palavras inteligíveis, e use esse material para contar uma história aos cantores do coro. Um dia íamos fazer uma apresentação em Donaueschingen, e no dia da apresentação estávamos nos preparando para o ensaio geral quando, de repente, o assistente de orquestra entra e diz: os trompetes e trombones não chegaram ainda. Assim, não tivemos trompetes e trombones durante o ensaio geral. A estreia aconteceria às 17 horas em ponto; às 16h30 ainda não havia trompetes e trombones. Havia um grande entusiasmo, 1.500 pessoas haviam chegado para esse festival anual em Donaueschingen, um pequeno vilarejo na Floresta Negra da Alemanha. Então eles decidiram no calor do momento trocar os programas com o Quarteto LaSalle, que ia tocar naquela noite, para dar tempo para os trompetes e trombones chegarem até às 20 horas. Estava no hotel pronto para ir ao salão quando alguém disse: "Não, não; você tem que esperar até esta noite, mudamos o programa". Cerca de cinco minutos passados das 17 horas alguém entra correndo em meu quarto e diz: "Eles chegaram; venha. Temos que nos apresentar". Os trompetistas e trombonistas estavam do lado de fora do salão aquecendo seus instrumentos. Eles haviam chegado em um carro particular, e os livros com suas partes haviam simplesmente sido deixados para trás na Rádio de Colônia, e agora lá estavam eles soprando em seus instrumentos enquanto o público já estava esperando do lado de dentro para a música começar. Pulei no palco, disse boa sorte para todos nós, e começamos.
Então, quando chegou o momento para a soprano solo iniciar sua sequência "mi-mi-mi" — "Impossível! — e os trompetes não estavam lá!" E depois, "Ficamos esperando o dia todo, é incrível!" para os cantores do coro, e um a um começaram a rir. O momento inteiro tornou-se real: "Nein, mas ele não vieram, os trompetes, e ficamos esperando até cinco e cinco. Vocês podem imaginar isso?". E eles estavam balbuciando todo esse tempo e não entenderam bem, mas a atmosfera ficou tão aquecida que foi a apresentação mais maravilhosa que se pode imaginar.
Há material de texto que encontrei em que estive trabalhando por alguns meses me um apartamento em Nova York, em uma época em que estava lecionando na Filadélfia, em livros deixados para trás pela pessoa que tinha vivido lá antes de mim. Em um livro que encontrei lá, The Sexual Life of Savages [A vida sexual dos selvagens], escrito por um cientista russo, Malinowsky, encontrei muitas transcrições de rituais tribais do Alto da Amazônia e das ilhas do Pacífico sul, e usei bastante como material. Aquele com gargalhadas e risadinhas é um rito de iniciação para uma jovem garota. Posso lhes contar o significado em particular, se quiserem.
Outro material é retirado das cartas de uma amiga: toda a obra é dedicada a uma jovem mulher, é uma composição que tem a ver com relações amorosas em muitos níveis diferentes. Peguei segmentos de suas cartas que costumavam chegar diariamente de manhã pelo correio. Alles um mich herum ist nah und fern zugleich: essa é uma sentença, "Tudo ao meu redor está perto e longe ao mesmo tempo". Há muitas outras sentenças como essa. Na maioria dos momentos há material do Cântico dos Cânticos, um poema de amor mítico, porque não mais sabemos quem o escreveu, e a maioria das pessoas conhece o texto, assim pode-se presumir que é material reconhecido imediatamente, assim como é extremamente belo. Para os diferentes momentos tive o cuidado de escolher excertos mais físicos ou mais em um nível espiritual. "Oh, se tu fosses meu irmão", por exemplo, nada tem a ver com uma relação sexual quando aparece primeiramente, assim usei-o algumas vezes em um sentido muito geral de afeição mútua.
O material mais lírico, mais sutil, por assim dizer, foi escolhido de livros que também não tinha em mente quando comecei a compor, mas encontrei no mesmo apartamento em Nova York, em um livro de poemas reunidos de William Blake. Há uma frase ouvida muito rapidamente, e mais tarde cantada novamente muito devagar e claramente pela soprano solo, sem ser perturbada por mais nada, que de algum modo expressa a essência do que quero dizer por momento, instante, agora, aqui, o preenchimento, o grau de presença.
Aquele que beija a Alegria enquanto ela voa
Vive no Alvorecer da Eternidade.
Isso é MOMENTE.
MACONIE, Robin. Stockhausen sobre música/ palestras e entrevistas. Trad.: Saulo Alencastre. São Paulo: Madras, 2009.