Na hora do recreio, Roberto corria para um canto do pátio onde não tinha ninguém e tentava derrubar o muro da escola com chutes. Todos os dias ele insistia, acreditando que hoje o muro estaria abalado pelos chutes do dia anterior e que um dia finalmente ele cairia. Eram quinze minutos de disciplinado combate que traduziam a esperança de um dia se ver livre daquela prisão. Era o momento mais vivo dentro das quatro horas diárias de aula, o momento em que não havia disfarces nem repressão e que ele repetia religiosamente em todos os recreios. Mas era também o momento em que não havia máscaras para a sua covardia, quando ele revelava que tudo o que queria era fugir ao invés de enfrentar a dura realidade, os alienados colegas, a rigorosa professora. Era, afinal, uma fuga realizada dentro da intenção da fuga que nunca ocorreu.
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