quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O denominador comum


Um dia resolveram medir tudo pelo mesmo parâmetro, traçar um denominador comum. Tornar uma cadeira, uma obra de arte, um sentimento e uma ideia, todos objetos da mesma natureza. Com isso conseguiram que eu trocasse um determinado número de cadeiras por um sentimento que tivesse valor equivalente. Posso trocar uma ideologia política por uma camiseta, um quilo de desespero por um relógio, dez metros de vazio interior por um carro, uma dúzia de dignidade por um par de sapatos e assim por diante.

A criação desse denominador comum é algo realmente genial, pois facilita a troca de coisas que outrora não eram nada simples de realizar e, para alguns, até irrealizáveis. Muitos, antes da concepção dessa genial ideia, não trocariam o amor, por exemplo, que é completamente inútil e pessoal, por um objeto de valor que tivesse uma função clara; ou, ainda que trocassem, sofriam grande dificuldade para mensurar o lucro ou prejuízo dessa troca. Mas hoje é uma troca simplíssima de se fazer, pois tudo pode ser medido pela mesma escala de valor. Quem em tempos antigos, trocaria o prazer por um aparelho que apenas causasse nos outros a impressão visual de que eu senti prazer? Seria uma troca difícil de ser realizada por que antes eram de naturezas diferentes o que se sentia e o que se apresentava aos outros. Hoje, como os dois objetos estão sob o mesmo parâmetro, é um tipo de troca fácil e constantemente realizada.

E todos sabemos que quando se fala em troca estamos falando de comércio: quão grande foi a prosperidade do comércio com o estabelecimento desse sistema! Conseguiu se infiltrar em absolutamente todas as áreas, desde as que já eram de seu domínio até outros terrenos que outrora se supunha completamente inusitados para as atividades desse ramo.

Feiras, shoppings, lojas vindo de todos os lados, entrando nas casas dos cidadãos, habitando seus pensamentos — conseguir estabelecer suas filiais dentro do pensamento das pessoas foi a sacada final do comércio.

Claro que há puristas que não aceitam o denominador comum. Esses são uns românticos, como aqueles que ainda preferem discos a CD’s  e usam de argumentos muito parecidos para justificarem-se: o som do disco é mais fiel, tem o ritual de mudar do lado A para o lado B, o CD é muito asséptico... Enfim: para o contentamento desses puristas temos o dinheiro — assim como para os puristas dos discos há a música — que sempre vale o tanto que vale. 

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