Como eu abrisse os olhos e estivesse numa canoa. Era a primeira vez que eu me via no meio de um rio. Um rio escuro, profundo e largo. Não sabia nadar. A canoa se afastava da margem. Tive medo. Pensei em pular. Mas não sabia nadar. Não fiz nada. Aliás, tentei remar com os braços e era a mesma coisa que nada. Fui me afastando cada vez mais da margem. Quando vi que era inútil tentar remar, parei e fiquei olhando. Pensei. Não pude fazer nada mais que pensar, planejar, desejar. E a canoa ia embora. O tempo todo eu via a margem ao longe. Se eu pulasse e nadasse, seria possível chegar lá. Se eu nadasse, mas eu não sabia nadar. Às vezes, tinha esperança de que a correnteza me levasse pra margem. Não levava. Esperei. Um dia, dois. Uma semana. Um mês. Cem anos. Esperei que algo acontecesse. Que alguém me ajudasse. Esperei a vida inteira sentado na canoa.
Até que senti a velhice me matando e, antes da morte, resolvi pular no rio. Meus pés alcançaram o fundo, mas era tarde demais para caminhar até a margem.
opa, muito obrigada!
ResponderExcluiraté agora só li este texto da canoa e achei bem interessante. depois lerei os demais. :)