terça-feira, 19 de março de 2019

ANDEI

saía sob o sol a pino
menino no meio do dia
corria sem destino ou medo
no ermo das curvas do tempo

do tempo dobrava as esquinas
menina sob a lua cheia
andei até não ter mais volta
andei

andei na luz da madrugada
na estrada estranha que seguia
havia areia, chuva, rios
o frio me cortava a carne

na carne me afloravam trilhas
de maravilha de cansaço
meu passo é largo e nunca cessa
meu passo

meu passo se não houver caminho
caminho pra fazer caminhos
saía sob o sol  a pino
saí

VANITAS

Saltar de rã
Na mágoa atroz
Canção de ave
Canora

No vão do ar
Vaga razão
Lagoa, chão
Saltar de rã

Alçar 
Voo leve leve de passarinho
Calmo calmo calmo calmo caminho
Voz que chama pra lá
Do outro lado do luar
Poça no asfalto

Cana, capim
Bagaço, fim
Renasço, nó
Rizoma

Levita, pen-
dular, temor
Feroz tear
Da Moira

Morar
Nessa casa casca frágil carcaça
Bela bela bela enquanto passa
Quando não seja vã
É o céu de outro lugar
Num pulo de rã

Tudo ao redor
é terra chã