sexta-feira, 3 de abril de 2015

A questão que permanece, inexorável, é a da existência. A política, o sexo, os mendigos, o medo de levar uma facada, tudo isso se torna secundário diante desta que é a mais secundária das questões. Quem sabe eu enxergasse a coisa toda de outro modo se minha única preocupação fosse conseguir sobreviver? Quem sabe eu desse mais valor à existência se tivesse que lutar por ela? Falando assim é rídiculo. Não sou nenhum Fernando Pessoa pra expressar com beleza a profundidade desses problemas. Aliás, estive num concerto de música contemporânea e também achei ridículo - não pela música, mas por todo o ritual de apreciação de um concerto: os músicos entram, são aplaudidos, tocam, se curvam. Num concerto comum isso já é engraçado, mas num concerto com poucas pessoas o ridículo desse ritual se torna patente.

A existência e seus símbolos. A religião, por exemplo, nunca adentrou profundamente na metafísica da linguagem ou da cultura. Heidegger e outros entenderam que o problema da existência é, em última instância, o problema da linguagem e este, por sua vez, é o problema da cultura. Não houvesse cultura não haveria símbolos. E toda a dificuldade da existência está nos símbolos.