quarta-feira, 19 de março de 2014
segunda-feira, 17 de março de 2014
CRÍTICA
O crítico de música popular há algum tempo atrás era uma das criaturas mais odiadas entre os artistas no Brasil (vide a famosa entrevista de Caetano no Vox Populi na qual ele chama um crítico de burro). Não sem razão: esse tipo de crítico que Caetano tanto desprezava não fazia mais do que falar mal dos artistas. Hoje os tempos mudaram: dificilmente vejo um crítico (embora seja verdade que não sou tão antenado neles) fazer carreira falando mal de artistas. Hoje, falar bem virou o novo paradigma, especialmente dos novos artistas. Embora isso pareça uma boa mudança a verdade é que se continua exatamente na mesma: o típico crítico (geralmente um jornalista, que nunca estudou música e não raro tem uma cultura musical vergonhosa) continua a não falar de música mas dos músicos. (Outro dia, procurando resenhas sobre o disco Abraçaço do supracitado Caetano, me deparo com um crítico chamando de "samba moderno" o que na verdade era uma apropriação do carimbó, o que me lembra a supracitada entrevista na qual o crítico da época chamava de ruins justamente os versos que Caetano tomara emprestado de dois baiões. Isto é: esses críticos não têm a mínima noção do que é a música popular brasileira). Daí, sem ter o que dizer sobre a música, se põem a falar do cansaço criativo dos velhos e das novidades dos novos ou dos sentimentos que tal música lhes suscita, sem nunca ter um único argumento que justifique tais opiniões.
Para esses críticos é preciso esclarecer que a música não se reduz a uma série de impulsos sensoriais que despertam imotivadamente determinados sentimentos, tampouco é mero suporte para a letra. Na música se contemplam estruturas, princípios de organização, mímese da realidade, abstração, textos sem palavras (embora muito claros, às vezes), referências, enfim, uma série de elementos que contribuem para criar significados, que, a não ser que o músico seja medíocre, nunca se resumem ao simples estímulo de uma sensação subjetiva: música é discurso.
Para esses críticos é preciso esclarecer que a música não se reduz a uma série de impulsos sensoriais que despertam imotivadamente determinados sentimentos, tampouco é mero suporte para a letra. Na música se contemplam estruturas, princípios de organização, mímese da realidade, abstração, textos sem palavras (embora muito claros, às vezes), referências, enfim, uma série de elementos que contribuem para criar significados, que, a não ser que o músico seja medíocre, nunca se resumem ao simples estímulo de uma sensação subjetiva: música é discurso.
sexta-feira, 7 de março de 2014
ENGOLIR E EXPELIR
Engolir é já o começo
Do processo de expelir
(coisa que ninguém faz
na frente de outrem).
Os restaurantes são, portanto,
Grandes banheiros abertos
Ainda que ao reverso,
Onde todos exibem seus pré-dejetos
Na porcelana (assim
como a da latrina a do prato)
Sem a vergonha que exibem no ato
Ao de comer, simétrico.
Do processo de expelir
(coisa que ninguém faz
na frente de outrem).
Os restaurantes são, portanto,
Grandes banheiros abertos
Ainda que ao reverso,
Onde todos exibem seus pré-dejetos
Na porcelana (assim
como a da latrina a do prato)
Sem a vergonha que exibem no ato
Ao de comer, simétrico.
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