O interfone: apartamento 302. Trinta segundos de espera. O dedo no interfone, clique e voz: "oi". Subir as escadas. Barulho chato dos sapatos ecoando. Primeiro andar. Segundo andar. Terceiro. Uma porta aberta.
Short e camisa de malha. "Senta aí, meu bem" disse antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. Sentou-se, obediente, no sofá. A televisão ligada. Ela foi em outro cômodo. "Só um minutinho". Enquanto isso olhou os discos na estante. O tabuleiro de xadrez na mesa. Foi, devagarinho, tirando as peças da gaveta e botando em ordem - só as pretas. Torre, bispo, peão, rei. Ficou olhando aquela metade de tabuleiro. Depois guardou tudo de novo. Fora de ordem mesmo - por que as coisas, pra voltar de onde vieram, sempre voltam bagunçadas e com pressa. Ela voltou, descalça.
Entregou a encomenda. Encomenda entregue, se levantou, fazendo menção de ir embora. "Fica mais um pouco, você deve estar cansado, vou pegar um suco pra você". Sentou novamente no sofá. Chegou com o suco de laranja, copo lagoinha. Por um momento,o olhar perdido entre os seios flácidos - o seio de quarenta anos, fruta mais-que-madura, pós-doce e pós-suculenta. Bebeu o suco com a educação que não tinha. "Sua mãe está bem?", perguntou, sentando-se do lado dele. Cara quase na cara. Olhos ampliados pelas lentes grossas dos óculos. Cílios superlongos. Respondeu que sim, tímido. Terminou o suco. "Tem certeza de que não quer mais nada?" perguntou quando ele já se dirigia à porta novamente. Olhou pra aquela boca de botox. Ai! aquela boca de botox.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Momento na sala de estar
O tabuleiro de xadrez na mesa. Foi, devagarinho, tirando as peças da gaveta e botando em ordem - só as pretas. Torre, bispo, peão, rei. Ficou olhando aquela metade de tabuleiro. Depois guardou tudo de novo. Fora de ordem mesmo - por que as coisas, pra voltar de onde vieram, sempre voltam bagunçadas e com pressa.
Assinar:
Postagens (Atom)